Testemunho: para se ter frutos no apostolado, é preciso ser completamente desapegado de fazer carreira

Auditório São Miguel, sábado, 7 de janeiro de 1989 – Santo do Dia

A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.

 

A nossa última reunião foi a de transição de ano, em que parece que falei sobre ideias gerais de tal passagem. Mas nós deveremos retomar a matéria que estava sendo dada anteriormente a isso. Era um conjunto de recordações a respeito de minha ação de apostolado. Estava tratando da fundação da Liga Eleitoral Católica (LEC), e, pelo que me recordo, o assunto estava mais ou menos esgotado. Nós deveríamos tratar não mais da fundação da Liga Eleitoral Católica, mas da ação, da movimentação da Liga Eleitoral Católica.

A Liga Eleitoral Católica teve uma diretoria formada por pessoas que foram indicadas por mim, propostas por mim, o Vigário Geral, Mons. Gastão Liberal Pinto, levou a Dom Duarte o nome das pessoas, que as aceitou. Indicaram apenas um nome que era alheio à minha lista, e que entrou naturalmente, pois eles é que resolviam e mandavam. E constituiu-se a Liga.

De acordo com os costumes do tempo, entendia-se a coisa assim: um organismo como a Liga Eleitora Católica, um organismo de grande representação, existente em cada uma das dioceses do Interior, havia uma Liga Eleitoral Católica local, em cada paróquia, ligada à diocese; depois as dioceses todas eram ligadas à Liga de S. Paulo. No Brasil inteiro havia um organismo igual. Formava, naturalmente, uma organização colossal. Esta organização deveria, portanto, ter uma certa representação.

Então, toda a organização grande deveria ter assim uma certa representação, cujo presidente, a ser indicado, devia ser de relevo, homem de alguma importância e de alguma “estampa”. Não estampa física, naturalmente. Mas, assim, um que tivesse ar de ser alguém. O secretário-geral entendia-se que deveria ser um homem que fazia.

Eram os costumes do tempo, assim se entendiam as coisas.

* O neto do Marquês de Valença presidente da LEC

Então, o presidente que eu tinha proposto para a Liga Eleitoral Católica era um senhor – eu creio que cheguei a falar dele aqui – de um nome curioso: Estevão Emmerich de Souza Resende.

Eu levei muito tempo para entender o que queria dizer Emmerich. Pensei que fosse algum antepassado alemão ou húngaro. Não era, não. Emmerich era o nome do filho de Santo Estevão, rei da Hungria. Emmerich, em húngaro; Américo, em português. Os pais dele deram-lhe o nome de pai e filho. O avô dele era um grande titular do Império, o Marquês de Valença. Era gente da melhor sociedade de São Paulo, casado na melhor sociedade de São Paulo, com ar de um homem muito fino, muito distinto e muito piedoso.

Ia todos os dias comungar na igreja de Santa Cecília, mais ou menos na hora em que eu comungava. Eu apreciava, gostava de ver a falta de respeito humano com que esse homem comungava – no tempo em que nenhum homem de representação, já feito, de uns sessenta anos ou mais o fazia. Ele comungava todos os dias, diante de todo o mundo, com jeito muito fino e com atitudes muito bonitas.

* Estilos de Dr. Estevão Resende

Comungava também a mesma hora uma velha mulata, que tinha uma perna inchada ou uma coisa assim qualquer, coitada. Na igreja de Santa Cecília, a capela do Santíssimo Sacramento fica dois ou três degraus mais alta que o nível do chão da igreja. Então, ela tinha que subir, descer e sair. Subir, ela subia: agarrava-se na grade da capela, que estava aberta. Mas, descer, parece que era muito difícil para ela. Ela arrastava o pé. De maneira que, ainda que não se olhasse para ela, já se sabia que era ela que estava descendo.

O Estevão Resende, com muita bondade, muita distinção, dava-lhe a mão, ajudando a preta a descer. Ela agradecia muito… Era bonito ver a caridade cristã com que ele fazia isto todos os dias.

Seria meu dever, sendo ele mais velho, eu apresentar-me para ajudar a preta, e não lhe dar esse trabalho. Mas eu vi que ele não gostaria, que ele gostava de fazer aquilo, e que haveria uma certa falta de tato minha em fazer isso.

Ele era irmão da Ordem Terceira do Carmo e reconhecido por todo o mundo como uma pessoa muito direita. Não era muito rico, mas tinha o suficiente para viver com decência, com dignidade etc. Eu propus, então, o nome dele para presidente. Dom Duarte aceitou.

* O vice-presidente J. Papaterra

Eu propus para vice-presidente um economista, professor universitário, muito entendido na matéria e muito católico; um chefe de família muito direito; homem muito quieto, muito fechado, circunspecto… Era uma das inteligências do movimento católico de São Paulo. Então, achei que um homem entendido em finanças ficaria bem para isso. O nome dele talvez os senhores estranhem um pouco: o primeiro nome era J. – não sei se José ou João –, o segundo, esse sim esquisito, Papaterra, “come terra”.

Os senhores sabem que há uma doença que leva as pessoas a querer comer terra. E, quando chove e fica aquele barro, as pessoas comem. Ou então quando, às vezes a moringa fica meio desgastada, assim, o sujeito mete o dente e come aqueles cacos da moringa. Uma doença horrível.

Ele era um homem saudável, não parecia nem um pouco uma pessoa assim. O nome era José Papaterra Limongi.

* Outros nomes da diretoria

Depois, havia um outro senhor, também de muito boa sociedade de São Paulo, médico, irmão da Ordem Terceira do Carmo, muito distinto, chamado Mário de Souza Aranha.

Dom Duarte – ou Mons. Gastão Pinto, Vigário-Geral – indicou um homem alto, com o cabelo projetado para a frente, nariz pontudo, um jeito assim meio rebarbativo, que só conheci então, chamado Dr. Adolfo Greff Borba.

Um outro senhor era aqui das Perdizes, deste bairro aqui próximo, um líder católico de lá, que quiseram introduzir na LEC, chamado Dr. Esdras Pacheco Ferreira.

* Escritórios da LEC na rua Wenceslau Brás

Constituímos a Junta. Dom Duarte pôs à nossa disposição três salas grandes, num prédio que a Cúria tem na rua Wenceslau Brás.

Havia a minha sala. Para um canto de minha sala, Dom Duarte mandou comprar uma mobília bem boa, bom tinteiro, escrivaninha etc., para reuniões da diretoria. Depois havia uma sala grande que era propriamente para o movimento eleitoral: títulos eleitorais etc. E , no fundo, havia um salão de fotografia. Este salão era para tirar fotografias das pessoas para pôr nos títulos eleitorais. Facilitava muito ao eleitor já ter o fotógrafo ali, e depois nós encaminhávamos os títulos para o Tribunal Eleitoral, e seguíamos o processo. Se alguma coisa encrencasse, mandávamos avisar.

Uma das pessoas que mais ajudou nesse negócio, eu não quero dar o nome dela, era uma senhora, que eu tinha conhecido assim a esmo no movimento católico, e que se tinha apresentado para trabalhar. Não era uma funcionária, era uma voluntária – dentro de um número enorme de voluntários – que se apresentou para trazer eleitores, para fazer andar os processos etc. E, propriamente, o encarregado do serviço ali era o Dr. Paulo Barros, que ainda era nesse tempo estudante de Direito. Eu já era formado, mas Dr. Paulo era estudante de Direito. Trabalhou muito nessa ocasião. Trabalhou como um mouro, verdadeiramente.

* Situação política em São Paulo e partidos: a coligação

… Interventor em São Paulo, um homem, aliás, agressivo e feroz chamado João Alberto Lins de Barros. Era Pernambucano. Interventor era uma espécie de governador de São Paulo.

Nessa situação, os paulistas tinham feito uma revolução, a Revolução de 32, tendo sido derrotados pelo Getúlio, e estavam chocadíssimos com este.

Então, a ideia era, para a Constituinte que se ia reunir, e para a qual estava convocada a Liga Eleitoral Católica, fazer uma coligação dos dois grandes partidos políticos de São Paulo: o Partido Republicano Paulista (PRP), que representava a população rural de São Paulo, sobretudo os “coronéis”, os chefes de zona do Interior; e o Partido Democrático, que representava o pessoal intelectual de São Paulo – uns e outros muito irmãos… na aparência brigados, mas na realidade de uma companheirice à toda prova -, mais algumas organizações civis. Uma organização dos ex-combatentes da Revolução de 1932, chamada a Federação dos Voluntários. Depois uma organização, que era a Associação Comercial de São Paulo: a Associação dos Comerciantes. Uma outra chamada Associação Cívica Feminina, que era mais ou menos uma associação de senhoras para tratar de coisas cívicas etc. E havia – como já tinha dito – a Liga Eleitoral Católica.

Cada uma dessas associações indicaria quatro candidatos, para a Constituinte. Esses candidatos seriam então eleitos pelo povo se conseguissem votos suficientes.

* O livro de Dom Chautard “A Alma de todo o apostolado”: uma obra “anti-carreirosa”

Eu tinha lido antes o livro de D. Chautard “Alma de todo o apostolado”, que me fez um bem enorme, enorme!

Até hoje eu venero a memória de D. Chautard, não só porque ele foi um grande religioso, um grande trapista – eu não teria a menor surpresa que ele fosse canonizado; teria uma certa surpresa se ele não fosse canonizado, e se de mim depender, no Reino de Maria proporei ao Papa que ele seja canonizado, tal a admiração que eu tenho por ele e pelo livro dele. O livro dele punha bem claro que um homem, para ter frutos de apostolado, deve ser completamente desapegado de carreira. Não pode ter nenhuma espécie de “carreirosa” [desejo desordenado, acima do amor de Deus portanto, para se fazer carreira, n.d.c.]. Teve “carreirosa”, não adiantou no apostolado! Para isto, graças a Deus, ele dá provas teológicas irrecusáveis: é isso mesmo!

* Fiz o firme propósito de não fazer “carreirosa”

Eu fiz o firme propósito de não fazer nada de “carreirosa”. Eu percebi naturalmente que era oportunidade de carreira para mim. Não movi uma palha. Mas uma palha!…

O Dr. Estevão Resende era muito amável, muito paternal, era realmente muito amigo meu. Eu tinha mais ou menos a idade de uma filha dele que era muito relacionada com a minha família. Portanto, ele era um homem muito mais velho do que eu. Era verdadeiramente paternal comigo. A filha dele disse que, quando ele em sua casa falava a meu respeito, punha-me nos cornos da lua. Era um entusiasta meu e dos congregados marianos, entre eles o Dr. Paulo, em cujo ambiente eu vivia.

* A Junta Arquidiocesana escolhe os candidatos da LEC

Ele me tratava de “Plínio”. Telefonou-me ele um dia, dizendo:

– “Dom Duarte manda reunir a direção da Liga Eleitoral Católica, mas convém que você não compareça, porque lhe ficará melhor não comparecer. Veja se quer comparecer ou não. Mas meu conselho é que você não compareça. A reunião vai-se realizar na sede da Liga às tantas horas, V. tenha portanto salão, cafezinho e tudo isso pronto para a ocasião. E vamos fazer a reunião…”

– “Pois não, Dr. Estevão. Está muito bem.” Pronto, estava tudo permanentemente pronto, era só mandar vir o cafezinho, bebidas geladas e tal.

Na hora certa, eles apareceram todos. Então, eu disse:

– “Bem, há uma recomendação do presidente, Dr. Estevão Resende, para que eu não esteja presente à reunião. Eu ignoro os motivos disso, mas me conformo de bom grado”. E retirei-me. Eles ficaram deliberando lá, durante algum tempo. Eu fiquei andando pelo corredor do andar, inteiramente vazio a essa hora, em que todas as coisas estavam fechadas. Rezando, pondo em dia as minhas orações, e pedindo ao mesmo tempo a Nossa Senhora que Ela dispusesse o que quisesse a meu respeito.

Afinal, abriu-se a porta… E um deles me chamou:

– “Faz favor venha agora tomar conhecimento das deliberações da direção”. A direção chamava-se Junta Arquidiocesana.

Eu fui à sala. Sentei-me. E o Dr. Estevão Resende disse-me:

– “Olha, Dom Duarte resolveu que a Liga Eleitoral Católica deveria apresentar quatro candidatos, como as outras correntes. Na lista dos candidatos havia um ex-ministro da Fazenda do Governo Artur Bernardes, Dr. Rafael de Abreu Sampaio Vidal; o diretor da Faculdade de Direito, Prof. Alcântara Machado, membro da Academia de Letras, um homem de muita reputação, naquele tempo, com escritório de advocacia bom, etc.; em terceiro lugar, um líder católico do litoral santista, Dr. Manuel do Hipólito Rego, de quem eu ouvia falar pela primeira vez naquela ocasião; e, em quarto lugar, você. De maneira que você deve concorrer para deputado, se você quiser”.

Felicitaram-me… Eu disse:

– “Muito obrigado. Dom Duarte deliberou. O que ele deliberou, está resolvido. Eu entro na coisa”.

* Uma candidatura altamente promocional

Mas para evitar apegos… A coisa era para mim altamente promocional. Um advogadinho novo, formado há um ano ou dois, e que era de uma vez eleito deputado federal. Mas eu ainda tinha que concorrer à eleição.

Eu disse para mim mesmo: “Não vou falar nada, nem com mamãe. Vou-me manter inteiramente quieto. Não vou contar nada na Congregação Mariana nem para ninguém, até que nos jornais estoure a notícia. Quando estourar, virão perguntar-me. Então, eu direi que é verdade”.

* A notícia da candidatura na casa da Senhora Dona Lucilia

Um dia, dois ou talvez três depois, os jornais da tarde – jornais vespertinos -, que eram naquele tempo muito mais lidos do que hoje, vieram com a notícia: “Eleita a Chapa Única por São Paulo Unido”. Os candidatos são… E no fim da lista, o mais moço de todos, Plínio Corrêa de Oliveira.

Esses jornais se publicavam um pouco tarde, e chegaram em casa quando estávamos todos jantando. O copeiro trouxe numa bandeja ou salva os jornais, que ficaram assim de lado. Eu também não sabia o que havia no jornal. Conversando as banalidades de todos os dias, terminado o jantar, alguns abriram-nos:

– “O que é isso, Plínio? V. foi indicado para candidato à chapa única?” Eu disse:

– “Fui!”

– “Ohhhh!… Mas, V. não disse nada a ninguém…”

– “Não…”

Naturalmente muito concernida pelo caso Dona Lucília.

Mas não tinham a menor ideia da influência do movimento católico, como eu, antes de trabalhar nele, não tinha a menor ideia dessa influência.

Passando por minhas mãos, durante o período eleitoral, uma votação enorme. Essa senhora de que eu falei há pouco, por exemplo, e que teve uma morte muito singular, trouxe uma votação enorme. E daí para fora… Eu não falava com eles, porque eu mesmo não sabia que resultado isso teria. Poderia dar em nada. Ficava quieto.

Eu verifiquei que, depois de um primeiro movimento assim pelo assunto, houve uma espécie de retraimento na mesa. A primeira foi a minha mãe, que ficou com muito medo que não fosse eleito. Era um cálculo político feito por senhoras, que não entendem de política. Porque, para mim, ainda que não fosse eleito, só o meu nome ser publicado, já era uma vantagem colossal. Mas, isso que um homem compreende, as senhoras – que naquele tempo viviam muito mais afastadas da vida pública – não estavam bem ao par dessas coisas, não as mediam bem.

* Dona Lucília, a primeira a recolher votos

Eu lembro-me que, terminado o jantar, eu vi minha mãe combinando com uma tia, irmã dela, algumas providências para arranjar votos para mim. Podiam telefonar para Santos, para um hotel, onde a minha família ia muito a passar os meses de inverno, chamado “Hotel Parque Balneário” – que já não existe mais –, a pedir a um diretor, Sr. Fracarolli, para que os copeiros votassem em mim… Elas calculavam que isso alcançaria uns quinze votos… Depois havia as antigas criadas de casa, que estavam empregados noutros lugares, que mandariam avisar para votar em mim, e, nesse sentido, falar com as amigas delas. E mais umas coisas assim, que no conjunto não dariam cem nomes. Mas lista feita, telefones, para começar uma propaganda. Mas a meta desta era a de que eu não tivesse uma votação vergonhosa.

Julgaram que era uma afoiteza de minha parte eu candidatar-me, que eu era novo, que não tinha quase relações, e que seria, provavelmente, derrotado. Valia pelo menos evitar a vergonha para mim e para a família de uma derrota sem votos. Então arrebanhar votos aqui, lá e acolá…

Eu pensei: “Deixa elas fazerem. Se isto der quinze votos a mais, seria uma coisa boa. Deixa-as fazer, não me incomodo”.

* No dia das eleições, máfias e o caso de Campinas

No dia das eleições, a máfia não deixou de funcionar. Eu estava atendendo muitos telefonemas. Eu fui de manhã para a sede da Liga e passei lá o dia até à tardinha, até se acabarem as votações. A certa hora atendo o telefone, que estava na minha mesa, e ouço uma voz assim [grossa e cava]:

– “Dr. Plínio está?” Eu respondi:

– “Está. Ele está ao telefone. Quem lhe quer falar?”

– “O Arcebispo”.

– “Deixe de brincadeira!” Pensei que fosse um congregado mariano. Ele retomou:

– “Mas é o Arcebispo Dom Duarte que fala…” Aí eu reconheci o timbre da voz, e disse:

– “Oh, Sr. Arcebispo. Oh, Sr. Arcebispo, desculpe-me”.

– “Olhe há uma situação gravíssima: toda a circulação dos votos católicos em Campinas está entupida, porque a Liga Eleitoral Católica não mandou cédulas suficientes para lá. O Sr. tem que mandar um automóvel com gente correndo para Campinas, para levar, pois de contrário será um desastre…” Eu disse:

– “Sr. Arcebispo, eu estranho. Mas vou ver o que houve. Vou telefonar para a nossa Junta em Campinas, para ver o que se passou”.

Dali a uns quinze minutos pude telefonar-lhe:

– “Sr. Arcebispo, tranquilize-se: a informação é falsa, em Campinas os votos estão circulando à vontade; a Liga Eleitoral Católica de lá recebeu todas as cédulas que nós lhe mandamos. A situação é inteiramente normal. Va. Excia. verá, em Campinas, o que se espera para a Liga Eleitoral Católica, em breve”. Ele:

“Obrigado. Vamos ver…”

No dia seguinte, viu-se que estava tudo normal. Tinha sido mentira da máfia para ver se eu, por exemplo, me impacientava ou qualquer coisa assim, e tinha uma deseducação, que fosse um começo de crise. Já conhecemos o jogo todo, não há nada a acrescentar…

* As apurações, comentários de um primo mesário

Uns dois ou três dias depois começaram as apurações.

Um primo meu foi eleito mesário, aqui, nos Campos Elíseos. Um grupo escolar tinha sido todo lotado com mesas eleitorais, urnas, e ele estava numa das mesas. Ele era afilhado de minha mãe, e eles se queriam muito. Quando ele saiu, disse:

– “Diga a tia Lucília que o Plínio, a julgar pela minha mesa, está eleito”. A mesa dele era a da letra “M”, numa parte do bairro dos Campos Elíseos que é mais perto da Barra Funda e acrescentou: “O número de cédulas dele, que saiu, foi uma coisa colossal! Vira e mexe, eu tinha que ir ao depósito de cédulas, trazer mais um pacote, abrir e pôr à disposição. Eu estava na mesa da letra “M”, e tudo quanto era “Maria” votava lá. Voto feminino colossal. Pela minha seção ele está eleito”.

Porém, era uma seção só. Não era um resultado significativo.

* “Somar votos, não era comigo…”

Continuou a apuração. Eu, fazer cálculos, somar quanto tinha tido, somar com o da véspera, não tinha paciência, porque toda a vida detestei fazer contas. Felizmente não havia computadores nem máquinas de somar. Eu achei que deveria tomar uma atitude de desapego. De maneira que não ia tomando conhecimento.

* A irmã de Dr. Plinio, Da. Rosée, lhe anuncia o resultado das urnas

Até que uma manhã, quando me levantei, preparando-me para a Comunhão, eu passei pela sala – situada perto da sala de jantar – onde tomava o café-da-manhã. Era um sala de jantar menor. A minha irmã estava lá, eu me lembro bem dela em pé, ainda era moça também, folheando o jornal com um cuidado enorme. Eu apareci, e, ela, assim meio de brincadeira, fez uma reverência, dizendo:

– “Meus parabéns, Sr. Deputado, o Sr. está eleito!”

Eu, sem prestar mais atenção, pensei que se tratava de uma brincadeira a mais entre irmão e irmã, ambos muito moços, ou qualquer coisa assim. Ela disse:

– “Não, senhor. Os jornais estão todos dando que V. atingiu o número de votos necessário para ser deputado. V. é deputado e já está eleito!” Eu disse:

– “Mas, como?” Ela mostrou-me… Ela vinha acompanhando com toda a precisão. De fato, eu tinha sido eleito. Eu amanheci deputado, de repente.

* O candidato mais novo e mais votado do Brasil: dificuldades para a posse

Aí é que começaram as dificuldades. Porque esse período foi um período muito tranquilo. Depois, ainda iam aparecendo votos e votos… Até apurar totalmente – eu já com a eleição garantida – ainda iam aparecendo todos dias votos, votos e mais votos das várias cabines eleitorais, até chegar ao total exorbitante de vinte e quatro mil votos.

Eu era o candidato mais moço do Brasil e, ao mesmo tempo, o candidato mais votado. Os jornais noticiavam isso. Sem elogios constatavam o fato. Mas o fato é sumamente elogioso. De maneira que comentassem ou não… – o “gelo” veio logo -, daria na mesma. A coisa estava assegurada.

* Primeira reunião da Chapa de São Paulo, depois da vitória

Uns dias depois, eu estava numa tarde no meu escritório, quando recebi um telefonema. Atendi. Era tão curto de dinheiro que não tinha “office-boy”, atendia eu mesmo os telefonemas. Ouviu-se uma voz assim solene, gênero paulista antigo:

– “Dr. Plínio Corrêa de Oliveira está?” Eu pressenti que era gente de São Paulo antigo, e disse:

– “É ele!”

– “Aqui fala Alcântara Machado”.

Tinha sido meu professor de Medicina Legal.

[matéria de uma caceteação suprema, que eu tinha estudado apenas o necessário para não ser reprovado. Não era comigo essa matéria, absolutamente. Como é que se faz a autópsia de um cadáver para reconhecer como foi o crime… Isso, comigo, não]

Ele era bom professor, aliás, um homem muito inteligente. Eu, no mesmo tom, de colega a colega, disse-lhe:

– “Dr. Alcântara, como vai o Sr.? Está passando bem? ”

– “O Sr. vai bem?”

– “Bem, obrigado”.

– “Eu queria lhe comunicar que vai haver hoje à noite uma reunião dos candidatos da Chapa Única por São Paulo Unido na sede da Ordem dos Advogados, na rua de São Bento, número tanto. O Sr. está convidado a comparecer”. Disse eu:

– “Pois não, muito obrigado. Estarei presente”.

* A Reunião da Chapa no prédio da OAB

Quando eu cheguei, deparei-me com um prédio antigo residencial de São Paulo, com uma sala de jantar muito pitoresca, mas não morava mais ninguém lá. Era um escritório. Havia uma mesa grande.

Nunca fui muito pontual, e não preciso dizer aos senhores que cheguei atrasado. A reunião não tinha começado ainda. O Alcântara já estava na cabeceira da mesa. Eu fui lá, e disse:

– “Dr. Alcântara Machado! Plínio Corrêa de Oliveira”.

– “Como vai o senhor?”

– “Bem, obrigado. Eu fui seu aluno na Faculdade de Direito, Dr. Alcântara, há pouco tempo atrás”.

– “Estou me lembrando…” Não se lembrava nada. Um aluno perfeitamente apagado. A matéria dele não a estudei, simplesmente colei…

Havia um outro senhor, também das antigas famílias de São Paulo, chamado J. J. – não sei o queria dizer esse J. J., talvez Joaquim José… – Cardoso de Mello Netto. Esse tinha sido um outro professor também de uma matéria que eu não tinha estudado: Economia Política. Esse veio logo ao meu encontro. Ele era muito esperto, viu entrar um rapaz com cara de vinte e poucos anos, tinha que ser eu…

– “Oh, Plínio… Como vai você?” Eu:

– “Dr. Cardoso, como vai o senhor?” Cumprimentos…

– “Vem cá…” Daí a pouco se compôs a mesa, e eu, por atenção e por respeito, coloquei-me no último lugar da mesa, bem em frente ao Alcântara Machado, que estava no primeiro lugar.

* Alcântara Machado lê o programa da Chapa Única

Então, todos sentados, o Alcântara Machado diz:

– “Bem, a reunião foi convocada para nós estudarmos o programa da Liga Eleitoral Católica. Eu vou ler os vários itens do programa, e depois os senhores opinarão”. Tá-tá, tá-tá… leu os vários itens. Quando terminou, perguntou:

– “Os senhores querem opinar sobre alguma coisa?”

Silêncio pesado na sala. Eu era obrigado em consciência a opinar. Eu disse, da minha ponta:

– “Dr. Alcântara, eu peço a palavra”. Ele disse:

– “Pois não, com a palavra o Sr. Plínio Corrêa de Oliveira”.

Eu disse:

– “Dr. Alcântara, o primeiro item é separação Igreja-Estado – depois tinha capelanias nos hospitais militares, nos do Estado, ensino religioso facultativo nas escolas, e outras reivindicações da Liga. Eu concordo com a segunda parte, mas devo dizer ao Sr. que estou em desacordo com a primeira parte. Na minha consciência de católico, não posso votar a favor da separação entre a Igreja e o Estado”.

Uma bomba não teria surpreendido menos aquela gente…

Um senhor, este conhecido da casa de um tio, chamado João Sampaio, ex-deputado, com a barba meio parecida com a do presidente Washington Luís, uma cara muito sombria, sabidamente muito anticlerical, quando eu disse isso, ele empurrou com as mãos a cadeira para trás, como quem ia se retirar da reunião. Ficou assim com uma cara… Então, eu disse:

– “Os senhores não pensem que eu estou aqui propondo a restauração da Idade Média. Não é o objetivo da Constituinte – não disse que não queria. Agora, a questão é que a separação da Igreja-Estado é contra a doutrina católica. Eu sou representante da Liga Eleitoral Católica e não vou subscrever isso.”

Novo silêncio. E o Alcântara, olhando o papel com um lápis na mão, me disse:

– “Dr. Plínio, quem sabe se nós pomos aqui, depois da palavra Estado, uma vírgula em vez de ponto, no programa. Então: em vez de `separação da Igreja-Estado.’, vamos pôr assim `separada a Igreja do Estado”.

Porque pode-se entender que é a favor da separação, mas pode-se entender como hipótese. Uma vez que esteja feita a separação da Igreja-Estado, pelo menos ter ensino religioso etc. Fica, assim, no condicional.

Aí, eu disse:

– “Aceito sem discussão!”

Alívio geral. A reunião continuou normal. Terminou, e eu fui para casa.

Eu tive a impressão de que eles tinham querido sondar o meu pulso, logo na primeira encrenca, já tinham preparado o negócio. E que também queriam ver se eu seria bastante esperto para compreender o alcance da solução dada. Porque se eu fosse meio quadrado, eu podia não entender , e dizer: “Também não aceito!”

Ora, se eles não alterassem e eu saísse da Chapa Única por causa disso, ficaria bem para mim, perante o meu eleitorado: saí defendendo a Igreja.

Mas, se eu não entendesse a solução apontada, e não a aceitasse, ficaria mal, como um tipo burro, com fervor de moço que ainda não compreendeu as coisas, e impreparado para o lugar.

Quando ele deu a solução, pulei em cima, dizendo: “Essa está muito boa”. Quer dizer, eu tinha entendido perfeitamente que era uma saída para o caso. Topei a parada.

* Um zunzum: Dr. Plínio não é elegível por causa da idade

Ali saiu um zunzum qualquer de que eu não era elegível, porque, pelo Código Eleitoral, para se ser deputado seria preciso ter a idade mínima de 24 anos. Ora, eu tinha 23, ainda não tinha 24. Logo, a minha eleição, se eu fosse deputado era nula. Os senhores estão vendo o problema.

Acontece que, quando a Constituinte estivesse reunida, seria só daí a seis meses. Eu, durante esse período, fazia 24 anos. De maneira que, quando fosse deputado, já teria a idade necessária. Como interpretar então a lei eleitoral? Eis a questão!

Eu me zanguei com a história, disse que não tinha propósito tal coisa. E o Dr. Cardoso de Mello disse: “Mas, menino!…” – não tinha sentido pejorativo, a família dele se dava muito com a minha, e tinha assim o sentido de “pater-familias” –, menino, V. pensa que está com inveja de nós, porque já temos a idade eleitoral, mas, pelo contrário, nós todos estamos com inveja de V. Nós daríamos tudo para voltar aos seus vinte e quatro anos. Olha para as nossas caras, como nós já envelhecemos. Se nós pudéssemos, voltávamos para os nossos vinte e quatro anos”.

Eu disse:

– “Não, Dr. Cardoso, eu não vou nessa brincadeira. Isso não tem propósito…” E fiz uma representação para o Tribunal Eleitoral. Toda pronta, explicando o que era…

* Um parecer que pode resolver o caso

Quando recebi outro telefonema em minha casa: era de um dos candidatos a deputado, Sr. José Carlos Macedo Soares, que me mandava dizer que se eu quisesse arranjava-me o parecer de um grande jurisconsulto a favor do meu ponto de vista. Eu disse que sim, “claro, de bom grado…” Ele disse: “Se V. quiser, passe pela minha casa às tantas horas que eu trato da questão com você”.

Eu passei pela casa dele, conversamos um tanto. E perguntei:

– “Bem, mas quem é o jurisconsulto?” Diz ele:

– “E o professor João de Sampaio Dória, da Faculdade de Direito – tinha sido meu professor de Direito Constitucional –, você quer o parecer dele?” Disse: “Quero!”

Se o parecer me conviesse, eu usava; se não me conviesse, arquivava. Vamos ver o que ele dá. Não cobrava nada, disse-me o Macedo Soares.

Ele foi ao telefone e combinou com o Sampaio Dória que me encontraria com ele no dia seguinte, feriado, num café que havia na rua XV de novembro, quase em frente à Secretaria da Educação. Perto do Pátio do Colégio, chamado, se não me engano, “Café Guarany”. Ele falaria lá comigo, explicando-me a coisa…

* “Café Guarany”: um parecer em troca de amizade com a maçonaria?

Fui para o “Café Guarany” na hora certa. Sentamo-nos. O Dória parece que se lembrava de mim. Cumprimentamo-nos. Entramos no assunto. Disse ele:

– “Eu acho que V. tem toda a razão. Eu vou fazer um parecer para V.” Ele dava opiniões muito anticatólicas, nas aulas. E acrescentou: “Eu sou contrário à participação da Igreja na política. Mas, no caso concreto, como está o Brasil, eu sou favorável. E por isso que eu me ofereci para dar um parecer a seu favor.

Eu ouvi… “ahn… ahn…”, como um aluno ouve o mestre, sem dizer nem sim, nem não.

Levantamo-nos, eu pensei que fosse me levar para o escritório dele, ou qualquer coisa, porque ele me disse que pensava pegar os papéis. Eu disse: “Dr. Dória, posso acompanhá-lo a algum lugar? Onde é que o Sr. vai?” – estava tratando a ele assim! o parecer dele era o ganho da causa – “Você me acompanha, vamos até a Secretaria.” – “Não, a Secretaria está fechada” – retruquei. “Não, não! Eu mando, abrem-na!” – declarou ele.

De fato, ele bateu na porta, e apareceu um qualquer detrás de um vidro fosco. Ele disse:

– “Abra, porque é o Prof. Sampaio Dória”. Pum-pum, abriu-se a porta. Foi lá a uma sala, tirou os papéis que ele quis, e saiu.

Disse-me: “Amanhã, passe a tal hora assim, e pegue o parecer”. Mandei pegar o parecer. Este estava excelente, completamente do meu lado.

* Dr. Paulo Barros vai ao Rio entregar o parecer no Tribunal Eleitoral

Então, tratava-se de mandar para o Rio de Janeiro para o Tribunal Eleitoral do Rio. O Rio era a capital federal naquele tempo. Eu mandei o Dr. Paulo Barros, que era um ano e meio mais moço do que eu, mas muito hábil, com uma lábia extraordinária, não havia quem resistisse ao que ele queria. Tinha um certo jeito. Eu dizia a ele que era ventríloquo, porque ele começava a fazer assim com o corpo, e não sei o que havia naquilo de persuasivo – o sr. viu vários exemplos do poder persuasivo dele -, que as pessoas se deixavam convencer. Eu disse: “Você vá ao Rio de Janeiro, fale lá com aquele pessoal do Tribunal Eleitoral, apresente isto”.

A vida continuou em São Paulo…

Uma noite estava em casa, jantando com um amigo, congregado mariano, presidente da Congregação de Santa Cecília, de uma família dinamarquesa rica, daqui de São Paulo, chamada Kok. Ele chamava-se Svend Kok. Svend é um nome que se usa muito lá pela Noruega, Dinamarca, Suécia. E um nome corrente. Estavam também outras pessoas.

De repente, veio um telefonema do Rio: “Seu Paulo quer falar com o Dr. Plínio”. Disse eu: “E o negócio do Tribunal Eleitoral. Vamos lá ao caso…”

Levantei para falar, e minha mãe imediatamente se levantou também e foi atrás de mim. O Svend pediu licença e foi também atrás. Eu não me lembro quem era que no Rio de Janeiro estava levantando oposição à minha candidatura. Eu esbravejei no telefone, dizendo que tal indivíduo era um cretino, e não sei mais o quê… Que se devia responder deste jeito etc. E Paulo ia-me dando os argumentos do sujeito. Quem ouvisse a conversa, vendo a minha réplica, compreenderia qual era o argumento do sujeito.

Minha mãe, perto do telefone, ouvindo com toda a atenção.

* Falta um conto de réis…

Outro episódio puxado foi este:

Veio um aviso do Alcântara Machado, numa outra reunião: “Todos os candidatos têm que entrar com mil cruzeiros – naquele tempo se dizia um conto de réis – como quota das despesas para a Chapa Única por São Paulo Unido. Portanto, cada um dos senhores tem que entrar”. Sem querer saber se tinham ou não tinham.

Eles eram homens já todos de idade, com cargos públicos, colocados na vida, ricos etc., naturalmente, tinham dinheiro de sobra. Para eles não era nada. Eu não tinha. Meu pai estava muito mal de negócios, estava até advogando no Interior para se manter. Minha mãe e eu morávamos em casa de minha avó. Mas eu não tinha o dinheiro.

Então, chegando em casa, durante o jantar, disse:

– “Há esta coisa assim, eu estou muito apertado, porque eu não tenho dinheiro, e mamãe disse-me também que não tem. E acho que vou ser obrigado a desistir da minha candidatura”.

A mesa cheia de parentes, e todos tinham à vontade, à vontade. Mas havia lá um tio-avô velho, colocado lá na ponta da mesa, junto à minha avó, que era irmã dele. Era um homem neurastênico, muito velho já, e como estivesse com dores de cabeça, enquanto jantava, punha, não sei por que um lenço no alto da cabeça dele. Estava com a cara aborrecida, e, às vezes, passava o jantar inteiro assim. Mas, como ele era velho, e tio-avô, ninguém mexia com ele. Só interrompia para temperar a salada. Ele temperava eximiamente! Salada de alface temperada por ele era excelente. Aí entrava um certo bom humor. Depois passava e…

Eu estava pensando: “A minha partida está perdida. Bem, vou dizer lá que não tenho dinheiro, e que na família de minha mãe – a família de meu pai era de Pernambuco não tinha nada a ver com isso – não há dinheiro para isso” – foi o que pensei. Não disse a eles.

No fim do jantar, ainda inacabado, ele rosnou para mim:

– “Plínio, V. passa amanhã pelo hotel Terminus – hotel de luxo –, a hora que V. quiser, porque eu só passo á noitinha. Eu lá te dou o dinheiro”. Uffff….

Fui lá pegar o dinheiro com ele. Estava sentado no quarto. Era solteirão. Tinha passado o dia inteiro sozinho no quarto, não sei com quantos maus humores e com quantas outras coisas. Eu entrei, ele ficou um pouco mais amável, assim, deu – em dinheiro contado, pois não havia nota de conto de reis, e era, portanto, muito dinheiro naquele tempo –, depois de contado, o dinheiro. Eu agradeci, e fui-me embora. Levei para a Chapa Única, entrando com um conto de reis. Ahhhh….

Dias depois, notícias nos jornais: “Tribunal Eleitoral do Rio de Janeiro, reuniu-se e deu ganho de causa ao Sr. Plínio Corrêa de Oliveira”.

Embarquei com o meu pai, minha mãe e minha irmã para o Rio de Janeiro. E fomos para lá… E aí começa um outro capítulo da história.

Esta é a história da minha candidatura.

E nada menos que uma e meia da noite. Ultra hora, portanto, de desfazer a reunião. Se Deus quiser, no próximo sábado vemos mais alguma coisa.

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Nota: Para ver mais sobre o tema, consulte “Minha Vida Pública Compilação de Relatos Autobiográficos de Plinio Corrêa de Oliveira” (2015), Parte II – A Liga Eleitoral Católica e a Constituinte de 1933/34

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